Jornalista Fernando Valões relembra encontro de jovens intelectuais e homenageia com saudades Antonio Ezequiel

Um relato nostálgico de 1975, onde sonhos se cruzaram e nasceram grandes nomes, como o inesquecível Antonio Ezequiel.

Os atores Chico de Assis, Carlos Vereza, Valões e Antônio Ezequiel

Os atores Chico de Assis, Carlos Vereza, Valões e Antônio Ezequiel

Era o início de 1975. Em uma tarde qualquer, na Avenida General Hermes, em frente à Igreja do Bom Parto, um grupo de jovens sonhadores se reunia. Eu, Fernando Valões, recém-chegado do interior sertanejo de Santana do Ipanema, ouvia atentamente os amigos da capital. Estava ao lado de intelectuais da mocidade: Francisco de Assis, que mais tarde se tornaria um dos grandes atores da Rede Globo e do cinema brasileiro, conhecido como Chico de Assis; Célio Lopes, funcionário público e fervoroso torcedor do CSA; José Juvino, que viria a ser o editor de videotape apelidado de "touro da televisão"; e tantos outros jovens cheios de sonhos. Entre eles, um se destacava por sua eloquência: Antonio Ezequiel.

Em pouco tempo, Ezequiel passou no vestibular da Universidade Federal de Alagoas para o curso de Jornalismo, assim como meu irmão, Roosevelt Pereira Valões, que também sonhava ao meu lado e se tornou jornalista. O tempo passou, e Antonio Ezequiel e meu irmão se formaram, logo assumindo papéis de destaque na linha de frente dos sindicatos. Ezequiel destacou-se no sindicato dos jornalistas, enquanto Roosevelt atuava no sindicato dos radialistas.

Era uma época turbulenta em Maceió, marcada pela opressão da ditadura militar. Ezequiel, com sua inquietude e determinação, rapidamente se engajou no movimento partidário, unindo-se aos companheiros do PCB. Enquanto minha trajetória me levou a atuar como editor e repórter em diversas emissoras de televisão pelo Brasil, Ezequiel ampliava seus horizontes na imprensa alagoana, deixando sua marca como jornalista comprometido e atuante.

Antes disso, Antonio Ezequiel já havia deixado sua marca no rádio alagoano. Atuou na antiga Rádio AM 710 como locutor e redator, e também passou pelas rádios Maceió, Progresso, Difusora e Gazeta, onde sua voz e talento como comunicador se tornaram conhecidos.

Roosevelt também construiu sua trajetória, trabalhando como editor em diversas emissoras de TV. Chico de Assis, por sua vez, consolidou sua fama nas novelas e seriados. Mas o tempo, implacável, passou para todos nós, e, de repente, fomos atingidos pela notícia da perda de Antonio Ezequiel Cordeiro de Lima, aos 71 anos.

Hoje, ao relembrar esses momentos, vejo a foto que tiramos durante as filmagens de "Memórias do Cárcere", baseado na obra de Graciliano Ramos, no intervalo das gravações, à sombra do Teatro Deodoro. Ali estávamos: eu, Ezequiel, o ator Carlos Vereza, e Chico de Assis, que interpretava o militar responsável pela prisão de Graciliano nos anos 30.

Que Deus cuide do espírito de Ezequiel. Nós, que continuamos aqui, saudamos sua memória e sua história.